Por que Ciro Gomes Impõe Tanto Receio à Esquerda Brasileira?

Por que Ciro Gomes Impõe Tanto Receio à Esquerda Brasileira?

Por Paulo Sergio de Carvalho 27/05/2025 - 11:54 hs
Por que Ciro Gomes Impõe Tanto Receio à Esquerda Brasileira?
"Eu não vou a cargo nenhum se não for pela mão do povo" Ciro Gomes

Mesmo fora da corrida presidencial — ao menos segundo suas próprias declarações —, Ciro Gomes continua sendo uma figura central no xadrez político brasileiro. O ex-governador do Ceará, ex-ministro e ex-deputado federal, embora filiado a um partido de centro-esquerda, o PDT, parece despertar mais inquietação na esquerda tradicional do que entusiasmo. Mas por quê?

A resposta passa por múltiplos fatores: o estilo combativo de Ciro, suas críticas ácidas ao Partido dos Trabalhadores (PT), sua independência retórica e ideológica, e agora, a crescente simpatia que começa a surgir por seu nome em setores da centro-direita, incluindo partidos como União Brasil — uma sigla nascida da fusão entre DEM e PSL, símbolos históricos da direita brasileira.

O Desconforto da Esquerda

O PT, principal força da esquerda no país, tem sido o alvo constante de críticas de Ciro, especialmente desde 2018, quando rompeu de vez com o lulismo e se apresentou como uma terceira via. Em 2022, esse distanciamento se aprofundou. Sua insistência em denunciar o que chama de "hegemonia petista" e sua crítica à falta de renovação política à esquerda feriram egos e criaram barreiras quase intransponíveis.

O crescimento da sua influência — mesmo fora das urnas — ameaça a liderança incontestável que o PT tenta manter sobre o campo progressista. Para o partido, a figura de Ciro representa não apenas um concorrente eleitoral, mas uma alternativa discursiva real, com base política sólida e, o mais perigoso, credibilidade nacional.

Mesmo com divergências recentes, o senador Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro, tem reforçado a importância nacional do ex-ministro. Em declarações recentes, Cid afirmou que considera a participação de Ciro na disputa presidencial de 2026 "imprescindível", alinhando-se ao irmão nesse ponto, mesmo após um período de distanciamento político. O gesto é interpretado como um sinal de rearticulação interna no PDT, indicando que, apesar das rusgas, o partido pode se unir novamente em torno de um projeto nacional liderado por Ciro.

O Flerte da Direita

Recentemente, nomes do Partido Liberal (PL), sigla de Jair Bolsonaro, fizeram elogios públicos à postura firme e à coerência de Ciro Gomes, algo que causou surpresa — e desconforto. Com a inelegibilidade de Bolsonaro, setores mais pragmáticos da direita buscam um nome forte e experiente para 2026. Ciro, apesar de não ser ideologicamente alinhado com o bolsonarismo, representa uma liderança nacional com histórico administrativo, capacidade oratória e apelo popular em regiões estratégicas, como o Nordeste.

A centro-direita, por sua vez, vê em Ciro um possível "consenso moderado" que poderia vencer tanto a resistência petista quanto o extremismo bolsonarista. Para partidos como União Brasil, que flutuam entre composições estratégicas, uma aliança com Ciro não é descartada — ainda mais diante da crescente fadiga do eleitorado com os polos extremos da política nacional.

O Fantasma de 2026

Apesar de ter afirmado publicamente que não pretende disputar a presidência novamente, o nome de Ciro Gomes segue crescendo nas redes sociais e sendo testado em bastidores de articulações políticas. Sua ausência na disputa parece ser encarada mais como uma estratégia temporária do que uma decisão definitiva.

Esse crescimento já incomoda a esquerda, que, curiosamente, tem buscado reforçar alianças com partidos de centro-direita — justamente os mesmos que agora cogitam apoiar Ciro. A tentativa de "blindagem" com o União Brasil e outras siglas de centro revela que o PT e seus aliados temem não apenas o retorno da extrema-direita, mas também o surgimento de uma alternativa viável à esquerda que fuja do seu controle.

Conclusão

Ciro Gomes é hoje um personagem incômodo porque escapa aos rótulos e desafia a lógica de polarização que tem dominado o Brasil desde 2014. Ao não ser "propriedade" de nenhuma corrente, ele ameaça todos os lados. Para a esquerda, representa o risco de perder o monopólio sobre o discurso progressista. Para a direita, a tentação de apostar em alguém de fora de seu espectro tradicional.

Se vai ou não disputar em 2026, ainda é cedo para dizer. Mas uma coisa é certa: o medo que seu nome desperta na esquerda é, talvez, o maior sinal de que ele ainda é, sim, um ator central no futuro político do Brasil.